Dos tremores

Sem abalos sísmicos, faz favor. Era tudo o que o filete de doçura bruta tinha a revindicar como trato. Coisa tão fina quanto o vôo de um passarinho, certeira busca sutil sem mapa – boas doses de prolixia servem na medida do necessário para desnortear o raciocínio e subjulgar tudo aos sentidos. Embora quanto labirinto não se invente no encontro de tremores diferentes… perigo é isso: um tremor encontra outro tremor.

Mas sem abalos sísmicos queria dizer apenas: sem estranhezas que escondam a fluidez das verdades. O suspense serve de quê além de retirar do desvendar a graça?  Teria coisa mais bonita que a naturalidade? Um bom entendedor que prove uma colher de doce, sabe que se for medir a dose do açúcar estraga. E estranheza talvez seja isso: contar grão de açúcar numa colheirada.

Faz favor seria assim, simples no entredito, um ponto de equilíbrio desequilibrado, um vento soprado no coração do sentido por quem não suporta o viver em um mundo milimetrado pelas receitas, por quem não suporta ser torta na doceria dos cardápios padronizados. Faz favor é uma brutalidade sutil pedida, um transgredir normas no pé-de-página, tirar a fantasia dos tremores.

– tremor: receio de um bolo desandado antes de ser feito.

– tremores: o estranhamento de duas xícaras de farinhas pensantes diversas, no saco destinado apenas ao açúcar.

Então sem abalos sísmicos significava: viver sem medo… ir ao encontro no tato.

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