Acontece da sombra de quem se amou
acordar com os pés enroscados, sentar no sofá de manhã,
tecer uma prosa silenciosa entre goles de café.
Não era para acontecer, mas acontece.
Entra por brechas, por rastros, por lacunas não preenchidas
de alguma falta de verdade, alguma incoerência nada modesta,
ou mesmo de uma mentira muito bem inventada
que tivesse posto o reino do amar fechado.
A sombra fica ali, pairando como um espírito mal resolvido,
uma melodia suspensa, uma xícara quebrada, uma morte prematura,
enquanto os sentidos se postam à escuta, e o coração procura
algum alinhavo de compreensão. Mas a sombra…
a sombra é coisa muda, vai até a cozinha, prepara
uma memória quente, oferece um sanduíche frio de vazio sem música
entornando seu sombreado por todo espaço que um dia coloriu também.
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