Água de deitar

Corpo em corpoé barcoimergindo, emergindo,silhuetas, síncopes,termal, molhado,no poente transladoda embarcação deitada. Mas… Onde deságuacom afeto em brasatorna todo em todo:dissolutos corpos.Imersões, emersões,deleite alagado sem bordas. Do corpo à alma.

Em preto e branco

No pedregoso labirinto das doresdesencontram valores, desatam em sóso que se prende em miudezas por miudezasna não sinceridade dos duelos. O que quebra cabeçasdesencaixa por distâncias despropositadas:quem muito se estica, quem muito se amassa,quem muito silencia, quem com a fala massacra.No labirinto das pedras separadas ou atiradasa dureza temerosa se serve do viver na bordatorna... Continuar Lendo →

Respiro são: respiração

Doura o que refresca sentidos,burburineia bem-te-vis em canção unguento,reapruma as linhas para onde a correnteza desfila;por vezes o que o corpo precisaé água, silêncio, sentimento,e o mundo gira.

Desbeira

Grão a grão das perdasempilhados em dunabloqueando o caminhoes co rre ram as costasfeito nó retirado da cachoeirapara onde a vidade sem bo cana boca do novo meio-diasem vírgula na asasendo na alegria casa. Parece precipíciomas é princípio,maré de ser.

De Água Doce

No largo lagodo fundo peitogotejauma esperançade mansa mansidão. Gaga pulsaçãoem eco nadapela longa águade fonte na comunhão. O que é doce não seca.O que é de água segue.

A Roda da Água e do Fogo

Para quem muito ou pouco aposta,a boa aposta é onde nunca apostou.Para quem rema sem fio o horizontea ilha é ponte, respirador.Para quem calejou de dorde aposta no vaziode meta sem lançade sonho no nubladoo abraço é o lugar mais macio.

Declaratório em Miudezas 1

No bico do sabiá, vento alto cruza o mar,chega à asa do bem-te-vi, vira salto amador,escorre em chuva pelas folhaspenetra a noite na terra,rompe em germinação dos quereresse abre pétala a pétalano sonho do beija-flor.

Hibisco em Aquarela

Azulava o dia como borda de pétala orvalhado de renascimento, tamanha chuva e tempestade trepidada sobre a textura do casulo da lagarta, como mantinha pendurada o sopro de nova realidade? A força brutalmente delicada enovelara na minúcia da paciência resistiu a cada tempo em sinuosidade Abrir mão de velhas estruturas do rastejo lento, tornar-se nua.... Continuar Lendo →

Versos de Isolamento – 2

Areia e vento na aspereza da matéria,pulsando a aorta, roçando a pele.Feito semente nas transições da terra:do difícil a beleza brota,por caminhos invisíveis a água jorra.Entre o quente e o frioa existência nada morna.Feito cacto no deserto que ainda assim floresce,segue acesa a chama:a minha, a tua, a nossa.

Abundamentos

A simplicidade que margeia vem da rega inesgotável polindo pedra, adoçando o leito. A existência, como rio, é um canto de infinitas vozes. Entre ser peixe e ser passarinho, escolho ser árvore na floresta.

De mato verso e prosa

Entre cheiro de mato e gabriela, água doce e pés na terra, um céu estrelado transborda a renda das árvores feito bebida que o peito esquenta.

A Força

Um pouco de toda coisa, uma parte em partes encaixada como todo e uma gota de sol a escorrer pelo corpo: uma irrealidade real demais afixa, mutável, em metamorfoses maleáveis, malabarismo de cor sem som, onda de som sem cor: constante em parto, parte, bifurca, aprofunda, reintegra e torna a nascer, e torna a morrer... Continuar Lendo →

Renascimento

A noite que apaga os contornos e enreda turva perspectiva finda. Porque é da noite assim como antes do dia, o fim. Reerguem sonhos de nuvem macia com borda dourada pelo céu do não vivido na maciez matutina. A vida tem mansidão de cultivo infinito coberto de orvalho de esperança, dedos delicados de moça, pés... Continuar Lendo →

Sob um céu de peixes

Ele via peixes no céu, ela era peixe mergulhando ao lado. Ele via nela os astros, ela o cobria de jardinagem. Rendiam noite a dentro em laço, construindo pontes entre universo, terra, amor, estrada. Voavam. Orquídea na varanda da casa, pé de romã, cheiro de mato. E a poesia escorregava do sofá para a cama,... Continuar Lendo →

(Des)Silencie

Tinha no peito uma coleção de espinhos enrolados em arame farpado. Os olhos carregados de silêncios e sombras. Palavras, palavras de sol bem regadas são tão necessárias, para que possa destecer a dor que estendeu de dentro a quem ousou amar e caminhar com você.

De metáfora e melodia 05

A gente é como um instrumento. Desafina, afina, ganha uns arranhados, tem o poder de um som cheio, desafia quem manuseia, precisa de cuidado... A gente é só instrumento, e somos apenas som em possibilidade. A gente muda, e muito, na variação rítmica do tempo da vida. O repertório muda. As durações mudam. Os exercícios... Continuar Lendo →

Do dito popular – coisas da velha

A velha avó gostava muito de provérbios. Vez por outra desenferrujava um da manga para algum ensinamento. Lembro do olhar de lado, por entre as lentes de um óculos que encobriam uma cegueira de alguém que resiste vendo. - Antes um pássaro na mão do que dois voando. Lembro de me deixar perder pela imagem... Continuar Lendo →

No amor não se perde

Da época que trabalhei em CTI, entre os casos que mais me marcaram foi o de uma paciente, que vou aqui renomear com o apelido de Jasmim, e de seu marido, também aqui com nome fictício, Lírio. Conheci Jasmim em uma internação dolorosa, tinha um tumor em região inoperável da cabeça, que havia sido diagnosticado... Continuar Lendo →

No Coração do Bloco

Tem gente que diz: nossa, que legal, você toca em bloco! Tem gente que diz: caramba, como você consegue tocar em bloco? Tem gente que diz com os olhos, gostaria também. Tem gente que faz cara de paisagem, mas com o olhar declara suas críticas célebres. E tem gente que se despudora mesmo e fala... Continuar Lendo →

Por velhas e novas prosas, chama, amigo

Amigos são partes incalculáveis, que chegam de onde menos se espera, espelham, ensinam, questionam e movimentam a gente a rever e se reaver... de quem somos, como somos. Dizem por aí que amigos são a família que escolhemos ter. Sim, a gente escolhe, temos lá nosso poder da peneira. Mas para mim, amigos acontecem. Não... Continuar Lendo →

Rítmo

No rastro da água na borda do tempo desfazem amarras se ruma em unguento. Nas dobras da noite nos levantes do dia revezam as toadas se lançam os pássaros urge o firmamento. 

Na sala do sentir

Quando era criança e passava por um momento emocionalmente complicado, o colégio era uma espécie de libertação. Naquele ano, lembro bem do nome dela, a tia Mônica, ousou uma manobra arriscada. Me tirou de onde sentava e me colocou, definitivamente sentada ao lado de um menino. As mesas eram duplas, e ele era alguém nada... Continuar Lendo →

De ser em popa

Liberdade não é linha de chegada, é presente que se dá. Mas no mundo ninguém o alforriará, é tu, ao seu próprio modo e gesto que escolhe se presenciar.

Para seguir em paz 

Das duas margens onde o centro é encontro do passo em rega das mãos ao laço, o caminho: o gesto do mútuo cultivo: amar é sair da margem.

Para o tropeço da distância

Tem dias que gerenciar uma saudade é do departamento das coisas inadministráveis. Dizem que ao que não há remédio... ah, deixe me cá com minha saudade, que remédio o que para o que me é sagrado! Fico eu com minha saudade enquanto a presença me vier ventada que a alegria é sem borda onde até... Continuar Lendo →

Para encontrar

Achar morada requer o caminho do templo de dentro. A lente que reconhece o sagrado é a do sentimento. Incansável em si, na troca, no derramamento, com seus contornos de simplicidade, com as relíquias livres ao vento. Cultivar morada requer o passo atento e coragem na lança do pertencimento. O toque que reconhece seu templo... Continuar Lendo →

Júpiter

Não me fale a língua dos impossíveis, tão menos do que calam os sentidos. Me fale, apenas, no tom da esperança onde toda a verdade é audível.

Por ser parte a prece

Que a verdade prevaleça e os olhos se guiem pelo coração. Para todo insucesso, erros e tropeços, novas escolhas sejam feitas: recomeços. Liberdade é não precisar que te libertem, decidir por si seu sim e seu não. O amor está onde há rega e a terra envolve, acolhe, aceita. Amor é de amor colheita. Todo... Continuar Lendo →

Corriqueiras Alegorices 5

Ser como o pássaro é ser como o peixe. Ser como o peixe é ser como o pássaro. Na medida que se permite fluir  se libertam as asas. Na medida que se permite voar se integra em sua correnteza. *imagem pinterest

Do ato de celebrar…

Um ou dois passos não contam o caminho. Partidas e chegadas, menos ainda. Não há resultado que traduza a caminhada, pequenos demais, olhá-los é ser despropositado. O real propósito só pode estar na caminhada, menos no passo, nas botas ou calçados, mais no que o chão se revela em espelho na caminhada. Somos o caminho,... Continuar Lendo →

Insights Itinerantes 7 – Com a alma posta à prova

Render-se: entregar-se: à observação de si, aos entendimentos de tudo que chega no agora: encontrar-se no presente dos aprendizados de tudo que há em si e espelha-se a volta: se permitir ouvir suas próprias respostas. Gratidão, bela, inusitada e movimentada vida! ❤️   

Epifanias bem-vindas

Existe um ponto do caminho em que não há no que se fiar: nada para trás lhe diz de si, e nada a frente há no que se mirar. Neste ponto é como olhar a vida do alto da colina, linda e bem-vinda, com seu raio de percursos, todos eles desaguando no mar. -Ê, pai,... Continuar Lendo →

São as pequenas pedras

Pequenas gratuidades, pequenas farpas, campo de oferta árido onde a secura de um desperta a parte espinhosa do depois. Pequenas pedras, afiam lanças e acendem chamas, o amor escorre  por passagens secretas deixando apenas a palavra Acabou.

De um em par

Viver é um exercício de amizade, consigo e com os pares.  Par pareado lar pareia, De par por par a gente se calça e ergue as botas  que ao mundo alça o vôo único ao um de volta. Viver é um calçado de amizade que consigo não há borda nem falta.

…pela estrada

Foi o tempo de canelas versos estradas em que me ocupava a dizer, como quem quer, mas não ousa pertencimento: o amor está em toda parte. Hoje, eu tola, ou olhando a tola de outro tempo, me pego boba: Está? Dissolveram-se as reticências, libertos foram os calçados de fora da verdade estar. O amor é... Continuar Lendo →

A gente apanha tanto tanto e tanto que vira inteiro orelha de tatame.

O fracasso é uma mazela temporária do ego cego e frágil. A pegada na areia faz parte até que no mar se reconheça em verdade.

Nunca, ou sempre, passos

Nunca se sabe quantos passos se dará para frente e quantos por temer se dará para traz, se enrolará em voltas à esquerda se distanciará por cegueiras à direita. Nunca se sabe quantos passos se tem a dar... quantas pontes: quando se é passagem, quando se é passageiro. Nunca se sabe... mas passos são como... Continuar Lendo →

Das prosas do eu

Quando era criança nada mais me atraía no universo que histórias de cometas, para mim eu era um cometa, e sendo cometa me via possível em acesso as estrelas. O que não via, muito provável por ser criança, que essa era minha maneira de não me sentir sozinha. O que não queria mesmo era viver... Continuar Lendo →

Reveillon… E agora? Agora!

Reveillon tem esse aspecto interessante, somos condicionados a olhar para trás, e olhando para trás a ponderar, avaliar, separar joio do trigo, pesar, dosar, redefinir, e invariavelmente projetar nossas querências para frente. Honestamente, acho muito pouco, nos damos a chance de ousar apenas uma vez por ano, nos vemos oficialmente como seres capazes de sonhar... Continuar Lendo →

Entre Passos

Tantas vezes no caminho, tudo que se tem a dar no passo é a coragem, e coragem não significa ausência de medo, simplesmente passo, passo dado, entrega ao próprio caminho, passo após passo porque passo a passo é ir de encontro à verdade.

Em Lis, Sem Pector

Por anos a fio, Clarice!, carreguei aquele seu texto debaixo do braço, e achava, ah, por que achava?, que aquela sua solidão desde o berço, aquele querer pertencer sem conseguir ser, me unia na falta, me amparava, como sua solidão amparava você. Quantas mentiras a gente inventa, Clarice!, para justificar se obscurecer. Quanto castelo de... Continuar Lendo →

por novos e melhores ciclos

- Papai du céu, - Que foi, minha filha - imagina - Eu pometu num mi iscondê dibaixu da cama Chora um pouquinho, de levinho, respira fundo, enche o peito, segura os dedinhos, continua: - Mesmo si o medo di tomá bonca fô gandi. Mesmo si achá qui num intendo. Mesmo si o monstu fô... Continuar Lendo →

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