Desmato

Humano mundo na pira famintado contra-natural,árido, infecundo,farpudo atrito do um a umcapital;pesa o coração, o estômago,tem pressa de preço que a vida endivida,tem sede de terra, frieza de sobremesa,assim por isso descurativo.Por vezes dá mesmo preguiça,de difícil digestivoo humano de descuido que incendeiae devora achando que respira.

Em Pedramento

Para o que não há poesia, já colocaria muito bem Adélia, a pedra. A pedra vista na descortina áspera da miséria que cresce nas ruas. A pedra ainda atirada, infelizmente, pelos que romantizam trabalho, romantizam merecimento, romantizam privilégios (e armas). A pedrada: a fome andando voraz pelas ruas. Pedro, saindo da terapia, que ainda paga,... Continuar Lendo →

Fac-Fractais

Da beleza: das quebras a liberdade, da liberdade o movimento, do movimento o encontro, do encontro os encaixes, dos encaixes as bipartições. Fractais dinâmicos da existência, mosaicos afixos onde a liga é o sentido. Onde quer que se vá deve-se ir com o coração atento, não em vigília, um olho bem aberto, receptivo. Deixar que... Continuar Lendo →

Contração

O dormente embrião de quem se foie não mais o é, inábil, desentendido,torto de pouco viver, pueril destemido errante,pesa quando se carrega, porque não se enterrapor se recusar a crescer. O estranho orgulho de quem o cultivaamarra um pé primitivo à tronco cortado,coloca em altar desejosas feridas:se atrofia. - Findar-se sem acontecer? Para nascer, é... Continuar Lendo →

A fronteira

Puiu os calçados, abriu bolha,fez calo, alcalinizou o que a vida deu de não,gemeu, zangou, até chorou,chegou a parar na beira a abrir mão. O telefone sem fio da vidanão tem quem fale ao ouvido,é zumbido alto, ruído,vento sacudindo a conexão. Seguiu… Foi até a fronteira de si sem ver o mundo,encontrou fronteiras no mundo... Continuar Lendo →

Declaratório em Miudezas 1

No bico do sabiá, vento alto cruza o mar,chega à asa do bem-te-vi, vira salto amador,escorre em chuva pelas folhaspenetra a noite na terra,rompe em germinação dos quereresse abre pétala a pétalano sonho do beija-flor.

CONTOTERAPIA – Zé

Zé tinha a força do sol correndo nas veias. Movia-se indiscriminadamente como os ventos, sem freio. Vivia sempre a beira do incêndio. Na cabeça o fazer. Fazer fazer fazer. No ritmo do atropelo, como um vôo cego sem pausas, atravessava noites e dias, semanas, meses, anos, sem pouso em si. Sem pouso em si mesmo,... Continuar Lendo →

Conexões Comunicantes

(crônica da semana com cartoon. crisebecken.com) Julieta partiu em navio, Romeu em foguete. Nessa versão contemporânea o veneno foi tomar distância. Mas a questão era que essa distância se quebrava em nada quando um do mar, outro do céu se lembravam mutuamente ao olhar uma estrela. No coração dela, a cara de Romeu. No coração... Continuar Lendo →

Café ao Mar

Um par de botas cansadas que desgaste completamente o solado até os pés ganharem a textura da areia e despidos possam dançar na borda de espuma que mareia. Melhor que bem calçado é bem amado. Melhor que a resistência aos desertos, a graça pareada de seguir pelas águas. O só por mais que estruturado não... Continuar Lendo →

TUI – ContoTerapia

TUI - ContoTerapia(crisebecken.com) Tui tinha um fio de alegria que sempre lhe escapava no bordado. Brigava com os dedos, se punha por vezes muito chateada quando o ponto enrolava, entortava, ficava com um jeito de desassossego. A moça queria tudo com excelente arremate, e por conta disso, o fio da alegria lhe escapava. Bateu um... Continuar Lendo →

Pequenas epifanias em acordes 4

Pequenos solossolados descalçosfazem que o mundo se apequenee um turbilhão se calepara que um outro mundo se agiganteonde o sentir fale.Quem toca sabeo que tocaou desfoca pelos calos?E quem é tocado sabecomo dançar a pautaou se perde entre as notas caladas?Ruidezas diminutas não cabem,é a luz melodiosa que integratocador e tocado.

A Força

Um pouco de toda coisa, uma parte em partes encaixada como todo e uma gota de sol a escorrer pelo corpo: uma irrealidade real demais afixa, mutável, em metamorfoses maleáveis, malabarismo de cor sem som, onda de som sem cor: constante em parto, parte, bifurca, aprofunda, reintegra e torna a nascer, e torna a morrer... Continuar Lendo →

Quimera

O olho que tudo vê amadurece entre as guerras e o cansaço nas trincheiras inexatas na ilha do querer. Vai desarmado recolhendo os espinhos lançados os convertendo em unguento sagrado de um espaço de paz. Essa paz distante dos combates tantas vezes pela ferida embotada. Desabotoa a veste do sonho dourado quando de areia e... Continuar Lendo →

Com o mar no céu

Na exuberância da transitoriedade, a constância é a mutação lunando os sentidos com generosidade. Vê que gentil o que a vida abre toda vez que a brisa feito o mar passa, e não se tem como carregar núvens como pedras na mala. Uma estrela amanhece, uma lua desagua.

CONTOterapia – SOFIA

Sofia era pausa. Se resguardava do mundo a cada passo. A conta-gotas desbotava a palavra não expressa, o gesto não tentado, a vontade não ousada. Era sempre um risco a tentativa, o sucesso ou o fracasso, a aprovação ou o desagrado. Sofia vivia como música sem compasso, suspensa no ar das possibilidades, sem pauta, sem... Continuar Lendo →

Do ser, a vida

As costas talhadas na dureza do outro, em pedra torta, fechada, embotada, rendeu noites inquietas, roucas. Mas os olhos eram vivos, inesgotável força. Atravessou ruas, contratempos, foices na angustia de ser um só e de só revelou-se não pouco quando a coragem desconstruiu muralhas, fronteiras, dores. Matéria de si viva, germinante, doce, nutrida em si... Continuar Lendo →

Norte

Sonhos pequenos, de valores imensos, sonhados a conta-gotas, buscados por uma vida toda, tantas vezes negados, estradas. Somos tão pequenos, e o céu tão largo... atalhos que nos encontram de volta, sinais, placas, insights, uma pequena concha pelo mar deixada, uma noite inteira em afago de presságio, para que o sol reaqueça no peito como... Continuar Lendo →

Solo

Derramava um silêncio de desatar nós, nós que já fomos, nós que borramos sóis. Sois da cor a pétala que desfixou, por força da voz o só, o nó, o nós. E por tato da falta de espera cansou e retonalizou em pluma leve, dispersa, para além do nó.

Arranjos

Da sombra de quem teme entre emaranhados ilusórios emerge a força límpida, clara, rompendo os olhos em horizonte caótico, preciso, precioso alto mar. E quem havia perdido as chaves, visto desérticas caminhadas, repousa no tato do contato de um universo inteiro a lhe embarcar.

Lucidez

A dança incerta entre o sentir e os pés na terra, quem ensina como é? Se diz, não acerta. Nem compasso, nem métrica, de pulso sincopado. Que a dança trama entre pernas o desejo e o manifestável conforme cada par de passos improvisa no tato o que consegue ousar. Nãos e sins explodem big bans,... Continuar Lendo →

Chorus

Nenhuma crítica, nenhuma dúvida, nenhuma coisa alguma enquanto os olhos sentem todas as úlceras não minhas, do outro, enquanto dança a renda exposta das faltas, marcas. Nenhum colóquio, ponta de faca afiada sobre o peito do mundo que adormece em alucinação trôpega. Ah, mãezinhas, por onde andavam no tempo em que a dor se costurava... Continuar Lendo →

Solfejos a Jorge

A embarcação adentrava noite. Na escuridão da direção, angustia na proa, medos em reflexos de orcas, tubarões, quem sabe monstros marinhos, dragões. Sofia tinha sonhos nas mãos, mas elas tremiam. Ali sozinha, tendo um mar inteiro de caminho, um horizonte no peito, a mente aos olhos lhe traindo. Era tanta água incerta a volta, que... Continuar Lendo →

Prosa de conselho contado

Um reino de sentir e sabores, guardado, trancado, negado como parte, míngua de seiva e tonalidades a vida. Ser em si sua mais frondosa árvore, não é perigo, nem pecado, é o gozo do íntegro. Nutrir de si por se permitir crescer a partir de suas próprias sementes, é a entrega ao prazer mais genuína,... Continuar Lendo →

Conselho dado

Repara, flor, demolições descontroem as fronteiras para lá onde o norte brota o sol do sentido. Ouça, flor, um pulso de força erguendo nutrido de bem-querer, unguento, intenso farol de liberdade. Seja, flor, a dança sincopada que trança sonhos e verdades em seu fértil tempo enraizado.

Salto

Buzinas, ruídos, tráfegos, vira e mexe lhe entupiam os sentidos. Desbotava, assim, como pétalas que pendem. Afogava no não ser, feito entorpecimento poluído. Quanto menos oxigênio no sentir, afogamento. Virava um carteado clichê, mímico de capas, etiquetas, sentado em praça pública, como quem só o tempo gasta. Indigesta cidade do reino do eu limitava. Até... Continuar Lendo →

Sob um céu de peixes

Ele via peixes no céu, ela era peixe mergulhando ao lado. Ele via nela os astros, ela o cobria de jardinagem. Rendiam noite a dentro em laço, construindo pontes entre universo, terra, amor, estrada. Voavam. Orquídea na varanda da casa, pé de romã, cheiro de mato. E a poesia escorregava do sofá para a cama,... Continuar Lendo →

(Des)Silencie

Tinha no peito uma coleção de espinhos enrolados em arame farpado. Os olhos carregados de silêncios e sombras. Palavras, palavras de sol bem regadas são tão necessárias, para que possa destecer a dor que estendeu de dentro a quem ousou amar e caminhar com você.

Que tiros são esses?

O tiro que tiras de dentro do peito e atiras com mira ou alheio, me diga, de que é feito? Foi da tua luz ou da sombra, foi por luz ou por sombra, foi para a luz ou para a sombra? Agora, me diga, qual o defeito, o conceito, que se atira ou tira, e... Continuar Lendo →

Eram minhas

Eram olhos de brilho intenso, degustação de traços, trejeitos, graças. Era olhar de apaixonada, derramando descoberta, contornando o outro com os sentidos. Ótica de maresia, inundando melodia com o coração de oceano. Suspiro. Como ventos sempre sopram, a névoa destece, a realidade se mostra com todas as ranhuras de pedra. E o outro ali, nu,... Continuar Lendo →

Em trânsito

Às vezes se vai pegar um ar e volta com o peito quadrado. Outras vezes, do caos, brota uma brisa oxigenada. Termômetro, meteorologia, qualquer coisa que mensure o inesperado, não existe. João passava dia após dia levando a vida na calculadora. Rita, na régua. Pedro, na balança. Ana, a conta gotas. Uma matemática falida, exaustiva,... Continuar Lendo →

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