Velho dragão d'água, guru de aldeia distante, quando havia seca, chamava todos ao pé de solitária árvore e pedia que com sonhos bons a regassem. Certa vez José, que ali assim estava, derramou uma lágrima pensando no que sempre desejou e nunca concretizara. O dragão, embravecido cuspiu intenso mar ilhando a aldeia. Aldeão outro estupefato... Continuar Lendo →
Bufo
Escangalhado espalhafatoso umbigode voltas grandiosas de voragensem coroado egoísmo por ourives de si mesmo,como é de tão branco, pobre,de tão raso, tóxico,se instituindo reinado alheio a trocanas gozadas vãs da própria imagem.Imprópria criança aprisionada em adulto dormenteenquanto tu não te acordascansa tudo que teu rastro tocae se desbota.
Contração
O dormente embrião de quem se foie não mais o é, inábil, desentendido,torto de pouco viver, pueril destemido errante,pesa quando se carrega, porque não se enterrapor se recusar a crescer. O estranho orgulho de quem o cultivaamarra um pé primitivo à tronco cortado,coloca em altar desejosas feridas:se atrofia. - Findar-se sem acontecer? Para nascer, é... Continuar Lendo →
Paz-Ciência: Paciência
É certo que a noite descee turva em desertosob céu sem estrela,escurecer é para todos o acerto primeiro.É certo que saber-se só estremecee inexato e curto e que fenece - Não corra tanto, menino sem jeito,que correr não cura medo nem erro,correr é que é o defeito. Todo grão de areia se arruma até a... Continuar Lendo →
Respiro são: respiração
Doura o que refresca sentidos,burburineia bem-te-vis em canção unguento,reapruma as linhas para onde a correnteza desfila;por vezes o que o corpo precisaé água, silêncio, sentimento,e o mundo gira.
Musicalmente
Acorde a acorde gotejaà dentro pelo espaçosmais profundosda pele, do corpo, por ondeuma sonoridade de esperançainunda no sentir e fecundaas possibilidades do peito.As notas pousam e voamno natural dos encaixespelo prazer harmônicode sons em cachoeira.
Desbeira
Grão a grão das perdasempilhados em dunabloqueando o caminhoes co rre ram as costasfeito nó retirado da cachoeirapara onde a vidade sem bo cana boca do novo meio-diasem vírgula na asasendo na alegria casa. Parece precipíciomas é princípio,maré de ser.
Insights Itinerantes – 24
Entre o que sangra, o que faz sorrir e o que liberta, a natureza imponderável da vida que segue. A flor que brota no deserto, ao mesmo tempo que guarda da força a graça, rende no espinho o findável. Na fronteira onde a areia se encerra, a frente o horizonte náutico, atrás o horizonte árido.... Continuar Lendo →
De Água Doce
No largo lagodo fundo peitogotejauma esperançade mansa mansidão. Gaga pulsaçãoem eco nadapela longa águade fonte na comunhão. O que é doce não seca.O que é de água segue.
RUP.
Q u ebradep a d r ão pelo tesão de ter felicidadeno c a m i n h o .
Da Vincela
Ao natural, sinuosamenterepletas de desejos, texturas,sabores, pêlose costelas(jamais feita de uma delas),tão unicamenteespaço própriode escolhas, cultivos, germinânciasdos quereres expressos ou a manifesto,tão completas.
Insights Itinerantes – 23
Não ser grande é a maior sabedoria que cabe em uma criança.
Café ao Mar
Um par de botas cansadas que desgaste completamente o solado até os pés ganharem a textura da areia e despidos possam dançar na borda de espuma que mareia. Melhor que bem calçado é bem amado. Melhor que a resistência aos desertos, a graça pareada de seguir pelas águas. O só por mais que estruturado não... Continuar Lendo →
Versos de Isolamento – 2
Areia e vento na aspereza da matéria,pulsando a aorta, roçando a pele.Feito semente nas transições da terra:do difícil a beleza brota,por caminhos invisíveis a água jorra.Entre o quente e o frioa existência nada morna.Feito cacto no deserto que ainda assim floresce,segue acesa a chama:a minha, a tua, a nossa.
Insights Itinerantes 22
Para crescer: crer nas asas,lavar o que feriu a pelecom brandura e afeto,esvaziar o peso da testa.Ser forte é ser suave.
Pequenas epifanias em acordes 4
Pequenos solossolados descalçosfazem que o mundo se apequenee um turbilhão se calepara que um outro mundo se agiganteonde o sentir fale.Quem toca sabeo que tocaou desfoca pelos calos?E quem é tocado sabecomo dançar a pautaou se perde entre as notas caladas?Ruidezas diminutas não cabem,é a luz melodiosa que integratocador e tocado.
Essência
Pano algum cobreo que dá tatoao que significa a vida.Dor alguma encobreo amor impresso na pele.Quando o frio descostura laçosainda há memória e célula.Rico é ser sol nascentena morada do outroque enluarado bordao renascimento da matéria.
A Força
Um pouco de toda coisa, uma parte em partes encaixada como todo e uma gota de sol a escorrer pelo corpo: uma irrealidade real demais afixa, mutável, em metamorfoses maleáveis, malabarismo de cor sem som, onda de som sem cor: constante em parto, parte, bifurca, aprofunda, reintegra e torna a nascer, e torna a morrer... Continuar Lendo →
Quimera
O olho que tudo vê amadurece entre as guerras e o cansaço nas trincheiras inexatas na ilha do querer. Vai desarmado recolhendo os espinhos lançados os convertendo em unguento sagrado de um espaço de paz. Essa paz distante dos combates tantas vezes pela ferida embotada. Desabotoa a veste do sonho dourado quando de areia e... Continuar Lendo →
Renascimento
A noite que apaga os contornos e enreda turva perspectiva finda. Porque é da noite assim como antes do dia, o fim. Reerguem sonhos de nuvem macia com borda dourada pelo céu do não vivido na maciez matutina. A vida tem mansidão de cultivo infinito coberto de orvalho de esperança, dedos delicados de moça, pés... Continuar Lendo →
Desempate
Empatia seria da natureza a coisa mais simples, não fora as defesas que nos separam. Há uma vastidão de medo seco, escapando do olhar nos olhos, reconhecer a dor diversa, como uma dor de si mesmo. Uma escuta descomprometida, uma indisponibilidade a verdade do contato, e da necessidade. Há um excesso de julgo, termo, crivo,... Continuar Lendo →
Guarda o Sol
Sabe que a noite trama em linha de prata a chuva fina, todo vento de desalinho despropositado se mostra espinho. Há mesmo uma vastidão que canta a liberdade do carinho, a condensação da alegria. Vê com mais verdade o que o abraço guarda da chuva. Olha com claridade o sol que não apaga na curva.
Torácica
Dor é espinha de peixe cruzada no peito, indigestão. Farpa no tato da retina, toxina. Reprise de memória não palatável, contra-degustação. Há quem se amordace, se envergue, cultive traça. Há quem se cale, rumine, erga muralhas. Mas há os que se despem, enfrentam deixando a dor doer até que sare e seguem libertos, com o... Continuar Lendo →
Entre o Céu e a Terra
O caminho é múltiplo, circular. Entre a paz e a guerra, entre a dança e a inércia, o caos harmônico, a harmonia desorganizadora. Ergue muralhas quem não se dispõe ao movimento, e adormece. Promove ventania quem por domínio em lança se ergue. É próspero o que navega selecionando não carregar o daninho, o ácido, o... Continuar Lendo →
Compassos
Se o nó na garganta se destece em canto e os descasos se despem em harmonia terra e céu em paralelo alinham, segue o peito oxigenando: alegria.
Do ser, a vida
As costas talhadas na dureza do outro, em pedra torta, fechada, embotada, rendeu noites inquietas, roucas. Mas os olhos eram vivos, inesgotável força. Atravessou ruas, contratempos, foices na angustia de ser um só e de só revelou-se não pouco quando a coragem desconstruiu muralhas, fronteiras, dores. Matéria de si viva, germinante, doce, nutrida em si... Continuar Lendo →
Norte
Sonhos pequenos, de valores imensos, sonhados a conta-gotas, buscados por uma vida toda, tantas vezes negados, estradas. Somos tão pequenos, e o céu tão largo... atalhos que nos encontram de volta, sinais, placas, insights, uma pequena concha pelo mar deixada, uma noite inteira em afago de presságio, para que o sol reaqueça no peito como... Continuar Lendo →
Vênus Alada
Não sabia da perfomance das escolhas a prolongar mais tempo do que cabia se vendo pouca, pequena, inútil coisa. Não sabia para si suaves brisas, doce pousar que lhe valia. Via-se bruta, amarrotada, poeira tosca, de si, então, sabia nada. Até que um vento imperioso rompendo amarras quebrou o errôneo espelho torto. Desabotoada das vestes... Continuar Lendo →
Salto
Buzinas, ruídos, tráfegos, vira e mexe lhe entupiam os sentidos. Desbotava, assim, como pétalas que pendem. Afogava no não ser, feito entorpecimento poluído. Quanto menos oxigênio no sentir, afogamento. Virava um carteado clichê, mímico de capas, etiquetas, sentado em praça pública, como quem só o tempo gasta. Indigesta cidade do reino do eu limitava. Até... Continuar Lendo →