Humano mundo na pira famintado contra-natural,árido, infecundo,farpudo atrito do um a umcapital;pesa o coração, o estômago,tem pressa de preço que a vida endivida,tem sede de terra, frieza de sobremesa,assim por isso descurativo.Por vezes dá mesmo preguiça,de difícil digestivoo humano de descuido que incendeiae devora achando que respira.
Bufo
Escangalhado espalhafatoso umbigode voltas grandiosas de voragensem coroado egoísmo por ourives de si mesmo,como é de tão branco, pobre,de tão raso, tóxico,se instituindo reinado alheio a trocanas gozadas vãs da própria imagem.Imprópria criança aprisionada em adulto dormenteenquanto tu não te acordascansa tudo que teu rastro tocae se desbota.
Contração
O dormente embrião de quem se foie não mais o é, inábil, desentendido,torto de pouco viver, pueril destemido errante,pesa quando se carrega, porque não se enterrapor se recusar a crescer. O estranho orgulho de quem o cultivaamarra um pé primitivo à tronco cortado,coloca em altar desejosas feridas:se atrofia. - Findar-se sem acontecer? Para nascer, é... Continuar Lendo →
Paz-Ciência: Paciência
É certo que a noite descee turva em desertosob céu sem estrela,escurecer é para todos o acerto primeiro.É certo que saber-se só estremecee inexato e curto e que fenece - Não corra tanto, menino sem jeito,que correr não cura medo nem erro,correr é que é o defeito. Todo grão de areia se arruma até a... Continuar Lendo →
Em preto e branco
No pedregoso labirinto das doresdesencontram valores, desatam em sóso que se prende em miudezas por miudezasna não sinceridade dos duelos. O que quebra cabeçasdesencaixa por distâncias despropositadas:quem muito se estica, quem muito se amassa,quem muito silencia, quem com a fala massacra.No labirinto das pedras separadas ou atiradasa dureza temerosa se serve do viver na bordatorna... Continuar Lendo →
Pérola
No mais profundo íntimo, a penetrabilidade:poeira do outro na condição das miudezas.A ostra que navega, não é só pérola,é de um todo inteira:rebola no seu interiorfarpa, pedra, abandono, frieza,de ralar, de ferir, de tirar proveito - e ainda assim miudeza:graúda pequeneza que bobeiamas que a ostra elabora a valor maiorpor ela.Perolada vai por si abertadona... Continuar Lendo →
A ciranda das mãos separadas
No vazio circular do umbigo, tum,em errante compasso descasado repetitivoRonaldo sem olhar, sem ouvir, falando de si,Junia se esquivando de tudo que negue a fantasia, ca tum,Luís das feridas de todos debochando para se cobrir,Soraia desfilando textos humanitários desumanizando, ca tum,Lucas inventando intrigas por competição,Fabiana derramando desculpas para ferir, ca tum,Joana de fora com um... Continuar Lendo →
De rodar
A roda quando se esvaziaroda a noite da Joanaroda a solidão do Joãoroda a desesperança da Mariamingua como fecha um anodorme o coração peãono movimento que silencia,descostura os passos das pessoas,deixando em suspensão Sofia:cheio aceno de mão ao vazio,vazio burburinho de alegria no chãoaté que a roda novamente gire.
No Ar Vem
A dança da levezab e i j apara bem vero aroma brisadode bem quererpela pelede peso peladapara no bem serbeijo beijado chuvadode beijo voador molhadoflorescer.
A Força
Não brutaenraíza no desejo.Não fantasiosailumina pela inteireza.A força como é: força,vontade de ser em simorre, renasce,fecunda, parte,age na coragem,goza.E tudo se recria.
Esperança
Com um olho aberto, outro fechado, meia a luz, meia a sombra, entre o seco e a umidade as raízes bem plantadas, sem sequer a noite esquecer seu nome: reina a jovem Esperança. Ao ressoar de trovões e tempestades e com envergadura ter de dançá-los, ou ao queimarem áridas as destemperanças que o vento carrega... Continuar Lendo →
Café ao Mar
Um par de botas cansadas que desgaste completamente o solado até os pés ganharem a textura da areia e despidos possam dançar na borda de espuma que mareia. Melhor que bem calçado é bem amado. Melhor que a resistência aos desertos, a graça pareada de seguir pelas águas. O só por mais que estruturado não... Continuar Lendo →
Hibisco em Aquarela
Azulava o dia como borda de pétala orvalhado de renascimento, tamanha chuva e tempestade trepidada sobre a textura do casulo da lagarta, como mantinha pendurada o sopro de nova realidade? A força brutalmente delicada enovelara na minúcia da paciência resistiu a cada tempo em sinuosidade Abrir mão de velhas estruturas do rastejo lento, tornar-se nua.... Continuar Lendo →
Insights Itinerantes 22
Para crescer: crer nas asas,lavar o que feriu a pelecom brandura e afeto,esvaziar o peso da testa.Ser forte é ser suave.
Pequenas epifanias em acordes 4
Pequenos solossolados descalçosfazem que o mundo se apequenee um turbilhão se calepara que um outro mundo se agiganteonde o sentir fale.Quem toca sabeo que tocaou desfoca pelos calos?E quem é tocado sabecomo dançar a pautaou se perde entre as notas caladas?Ruidezas diminutas não cabem,é a luz melodiosa que integratocador e tocado.
Abundamentos
A simplicidade que margeia vem da rega inesgotável polindo pedra, adoçando o leito. A existência, como rio, é um canto de infinitas vozes. Entre ser peixe e ser passarinho, escolho ser árvore na floresta.
Do yin, o pulso
Quem te ensinou que o afeto se expressa pelas formas brutas, te fez deserto. Não vá por aí semeando cacto, contando que flor se abra. Não cobre boas regas quando o que cultiva é força sobre o outro. Não fale de jardim se é abusivo com a terra. Ignora que a natureza se restaura em... Continuar Lendo →
Quimera
O olho que tudo vê amadurece entre as guerras e o cansaço nas trincheiras inexatas na ilha do querer. Vai desarmado recolhendo os espinhos lançados os convertendo em unguento sagrado de um espaço de paz. Essa paz distante dos combates tantas vezes pela ferida embotada. Desabotoa a veste do sonho dourado quando de areia e... Continuar Lendo →
Peneira
Vazio seco, vazio aguado, vazio doce, vazio árido: as pontes de passagem do ser e do nada. Onde tudo é e deixa de estar: são vazios, vazios sãos. A essencialidade do vazio pela vida germinada: a sombra e a luz não duram mais que um passo e o vazio torna a preencher.
Renascimento
A noite que apaga os contornos e enreda turva perspectiva finda. Porque é da noite assim como antes do dia, o fim. Reerguem sonhos de nuvem macia com borda dourada pelo céu do não vivido na maciez matutina. A vida tem mansidão de cultivo infinito coberto de orvalho de esperança, dedos delicados de moça, pés... Continuar Lendo →
Torácica
Dor é espinha de peixe cruzada no peito, indigestão. Farpa no tato da retina, toxina. Reprise de memória não palatável, contra-degustação. Há quem se amordace, se envergue, cultive traça. Há quem se cale, rumine, erga muralhas. Mas há os que se despem, enfrentam deixando a dor doer até que sare e seguem libertos, com o... Continuar Lendo →
Nu Natural
Faltava falar dos sentidos, da sensualidade do umbigo, do dedilhado nas costas, da chama entre barrigas, do peito esparramado, acolhido, das pernas trançadas, embaralhadas, do som respirado, impautável, de estar fundido. Dar voz a naturalidade do tocar sendo tocado tendo os olhos despidos. De resto, em meio a noite ensolarada, nada mais faltaria.
Solo
Derramava um silêncio de desatar nós, nós que já fomos, nós que borramos sóis. Sois da cor a pétala que desfixou, por força da voz o só, o nó, o nós. E por tato da falta de espera cansou e retonalizou em pluma leve, dispersa, para além do nó.
Prosa de conselho contado
Um reino de sentir e sabores, guardado, trancado, negado como parte, míngua de seiva e tonalidades a vida. Ser em si sua mais frondosa árvore, não é perigo, nem pecado, é o gozo do íntegro. Nutrir de si por se permitir crescer a partir de suas próprias sementes, é a entrega ao prazer mais genuína,... Continuar Lendo →
Conselho dado
Repara, flor, demolições descontroem as fronteiras para lá onde o norte brota o sol do sentido. Ouça, flor, um pulso de força erguendo nutrido de bem-querer, unguento, intenso farol de liberdade. Seja, flor, a dança sincopada que trança sonhos e verdades em seu fértil tempo enraizado.
Sob um céu de peixes
Ele via peixes no céu, ela era peixe mergulhando ao lado. Ele via nela os astros, ela o cobria de jardinagem. Rendiam noite a dentro em laço, construindo pontes entre universo, terra, amor, estrada. Voavam. Orquídea na varanda da casa, pé de romã, cheiro de mato. E a poesia escorregava do sofá para a cama,... Continuar Lendo →
Que tiros são esses?
O tiro que tiras de dentro do peito e atiras com mira ou alheio, me diga, de que é feito? Foi da tua luz ou da sombra, foi por luz ou por sombra, foi para a luz ou para a sombra? Agora, me diga, qual o defeito, o conceito, que se atira ou tira, e... Continuar Lendo →
O dom de (se) iludir
O dom de iludir... a sugestão de música onde a voz se oculta, a melodia sem corpo à dança. A arte de não ser em traje de passeio. O deixar rastro quando já se retirou do caminho. A ousadia não dita. O viver em ensaio por não se ter controle da conjunção perfeita. A idéia... Continuar Lendo →