A gente foi ensinado a não ver nossas sombras. Não. Nós não fomos ensinados a observar nossas sombras reconhecendo nosso poder de escolha quanto a elas. Na maior parte das vezes, tivemos aprendizados distorcidos, sem nenhuma aceitação dos dois lados. E ficamos cheios de expectativas sobre as não-sombras que gostaríamos de caminhar ao lado. Por isso nos mantemos inábeis, afinal, temos sombras, os outros tem sombras, e ficamos perdidos quanto ao que fazer com isso.
A sombra do outro aciona nosso botão automático, e rápido reagimos com nossas sombras. Em seguida, perseguimos um culpado: ele ou eu, um algoz e uma vítima. Ou seja, não nos aceitamos com nossos dois lados, não aceitamos o outro com seus dois lados, e somos apegados aos nossos padrões de defesa.
Outro dia uma paciente me disse:
– Cris, eu estou fazendo com o meu melhor e ele só usa o seu pior lado.
Outro dia outro paciente disse:
– Cris, eu percebi que eu me defendo o tempo todo, que eu tenho rancor e fico distante.
Bate-bate, lembra desse brinquedo no parque? Ambos estavam bastante frustrados, consigo e com suas relações. Mas ambos usaram a mesma frase em algum momento:
– Está pesado demais para mim.
Sim, fica mesmo pesado! Pesadíssimo! E o impulso é correr ou destruir. Mas por que somos reincidentes nas sombras? Queremos a tomada de consciência do outro, queremos a mudança do outro, mas percebemos nossa parte? Aprender a observar a si sem julgamento, integrando nossos dois lados e reconhecendo nosso poder de escolha é nossa parte: nossa mudança.
Quando olhamos para tudo como um exercício, um amadurecimento do guerreiro interior, a leveza se abre sobre nosso caminho. Abrimos mão desse nosso lado combatente e desenvolvemos gratidão pelas oportunidades de nos aperfeiçoarmos através de nossas relações.
O outro pode, sim, escolher usar seu pior lado, faz parte. Calibrar nossas possibilidades, reconhecer nossos limites e do outro, admirar suas qualidades, também faz parte! Mesmo quando tudo parece bastante confuso ou árido em nossas relações, podemos nos dar o benefício do aprendizado, nosso exercício de escolhas, de lidar, de filtrar, de não se deixar levar pelos hábitos, de nos reposicionarmos em nossas melhores energias e aprimorarmos nossos formatos, fazermos acertos de rota. Afinal, pior do que estarmos frente a frente com a sombra do outro, é sermos reféns de nossa própria.
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